Doutores em Biomedicina explicam as etapas de produção de vacinas, inclusive para a Covid-19, e apontam a rotina de um imunologista

03/11/2020

Especialistas da Unicid e da Universidade Cruzeiro do Sul explicam as fases clínicas e testes para uma vacina, e apontam quais são os projetos de produção em andamento no mundo para o combate à Covid-19

Conteúdo foi elaborado a partir dos docentes e doutores Deny Anderson dos Santos, Alef Aragão dos Santos, doutora Fernanda Borges e mestra Thaís de Lima

A rotina de um imunologista em um laboratório de imunoderivados pode ser compreendida como complexa, haja vista, que a produção de uma vacina dispõe de muitas etapas, é o que explicam os docentes: Dr. Deny Anderson dos Santos, do curso de Biomedicina da Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid), e Dr. Alef Aragão dos Santos, Drª. Fernanda Borges e Mª. Thaís de Lima, também do curso de Biomedicina da Universidade Cruzeiro do Sul. Ambas as instituições integram a Cruzeiro do Sul Educacional.

Segundo o Dr. Deny, da Unicid, o profissional responsável pela produção de vacinas, necessita de formação em várias áreas do conhecimento, como, biologia celular, biologia molecular, bioquímica, química, imunologia e microbiologia. Além disso, o docente comenta que, economia de projetos e matemática aplicada à imunologia têm sido áreas de conhecimento comum, sobretudo no atual cenário de pandemia.

A professora Dr. Fernanda, da Universidade Cruzeiro do Sul, indica que a rotina desse profissional frente à uma doença emergente como a Covid-19, é desafiadora, principalmente pela necessidade de desenvolvimento a curto prazo de estratégias de diagnóstico confiáveis, estudo de drogas que auxiliem o organismo no combate à infecção e, por fim, porque visa chegar até a vacina eficaz no menor intervalo de tempo possível.

“O compartilhamento de informações e a leitura de dados científicos é fundamental. A rotina do profissional requer paciência, atenção e rigor científico para que seus resultados sejam confiáveis”, explica Fernanda.

O QUE É UMA VACINA?

Para a professora Fernanda, da Universidade Cruzeiro do Sul, as vacinas “são substâncias biológicas que podem ser semelhantes aos microrganismos causadores de uma patologia, toxinas ou componentes desses microrganismos ou o próprio agressor atenuado (vírus e bactérias enfraquecidos) ou inativo (vírus ou bactéria mortos) que são introduzidas em pessoas saudáveis para protegê-las. Essas substâncias administradas estimulam o sistema imune a produzir anticorpos para reconhecer e combater os vírus em futuras infecções. Assim, caso uma pessoa vacinada entre em contato com o vírus, o sistema imunológico terá anticorpos em sua memória para combater a infecção”, explica.

A HISTÓRIA, A PRODUÇÃO E A TESTAGEM

No que tange ao processo de produção, testagem e vacinação da população, o professor Deny, da Unicid explica que, no Brasil, o início se deu desde os trabalhos pioneiros de Oswaldo Cruz e Vital Brasil, seguidos por vários outros ao longo do século XX, que, por consequência, resultou na produção de grande parte dos imunobiológicos hoje existentes.

“A partir da década de 1980, um plano nacional de investimentos em instalações e equipamentos nos produtores estatais resultou em uma grande revitalização da área, sendo atingida grande parte das metas propostas dentro das tecnologias então disponíveis. Esse plano nacional não só permitiu o financiamento dos laboratórios produtores, como o Instituto Butantã (SP) e Bio- Manguinhos (RJ), como ainda estabeleceu metas e definiu o que caberia a cada grupo, evitando a superposição de atividades e estimulando a realização de pesquisas de desenvolvimento em comum de novos produtos”, argumenta.

Para uma vacina ser oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, o biomédico ressalta que, assim como a comercialização em clínicas privadas, as vacinas passam por uma sequência de protocolos clínicos, com o viés de assegurar a eficácia e segurança do produto.

“Sobre as etapas de vacinas, menciono que, em uma primeira, envolve-se a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em torno da identificação dos antígenos naturais ou sintéticos que podem prevenir ou tratar uma doença. Na fase pré-clínica, ocorrem avaliações preliminares a respeito da segurança e eficácia da vacina candidata. Nessa etapa objetiva-se investigar possíveis respostas celulares em seres humanos e auxiliam em determinação da dose inicial que torne o produto investigacional eficaz”, explica.

Segundo o docente da Unicid, para a execução dos testes clínicos no Brasil, a regulação atual demanda a elaboração de um protocolo de pesquisa clínica, previamente autorizado pelo Comitê de ética em Pesquisa, e a submissão de um Dossiê de Desenvolvimento Clínico perante a ANVISA, e aponta quatro fases:

Fase clínica I

Avalia-se a extensão da resposta imunológica que a vacina candidata é capaz de oferecer. O teste envolve um pequeno grupo de pessoas”.

Fase clínica II

Aumenta-se o grupo de sujeitos para a pesquisa, e investiga-se a imunogenicidade do produto, os parâmetros de dosagem e métodos de cronograma e administração”.

Fase clínica III

Envolve um grupo de milhares de pessoas. Por meio de estudos randomizados e duplo cegos avalia-se a segurança das vacinas, além da eficácia da vacina na prevenção de um patógeno em relação à um placebo ou vacina similar disponível”.

Fase clínica IV

Por fim, os medicamentos aprovados para uso passam por monitoramento contínuo para garantir que não haja outros efeitos colaterais, principalmente os graves ou a longo prazo”, esclarece.

PROJETOS DE PRODUÇÃO – COVID-19

Os docentes Deny e Fernanda, da Unicid e da Universidade Cruzeiro do Sul, respectivamente, apontam os projetos de produção da vacina contra a Covid-19 que estão em andamento no mundo e indicam a situação atual dos processos.

*Os apontamentos também contêm informações a partir dos especialistas Dr. Alef Aragão dos Santos e Mª.Thaís de Lima.

“Hoje, sabe-se que a proteína Spike, que está localizada na superfície do vírus, é um dos mecanismos de entrada do vírus para as nossas células. Por isso, algumas pesquisas vêm se esforçado na possibilidade de produção de anticorpos contra essa proteína, que poderia bloquear a entrada do vírus nas nossas células e sua possível replicação. Atualmente, são mais de 100 estudos em andamento para o desenvolvimento dessa vacina, alguns em fase clínica e outros em fase pré-clínica. Como estamos enfrentando uma pandemia, alguns protocolos e requisitos, que são exigidos por agências que regulam a produção de vacinas, estão sendo flexibilizados, para que uma nova vacina possa ser desenvolvida. Mesmo assim, é de se esperar que as agências mantenham as exigências necessárias para que essa nova vacina não seja prejudicial para os humanos, a partir de estudos com outros animais além de criterioso estudo de ensaios clínicos”, avalia a Drª. Fernanda.

Moderna: “Em março, a empresa começou a testar sua vacina RNA mensageiro (mRNA) em um ensaio clínico de fase I em Seattle, Washington. O estudo inclui 45 voluntários saudáveis, com idades entre 18 e 55 anos, que estão recebendo duas doses com 28 dias de intervalo. No início de maio, a empresa recebeu permissão do FDA para iniciar um estudo da fase II de sua vacina. A empresa espera iniciar um ensaio clínico de fase III no início do verão. A FDA também concordou em acelerar a revisão regulatória desta vacina se obtiver sucesso em um ensaio clínico da fase III”.

Inovio: Quando a COVID-19 apareceu em dezembro, a empresa já estava trabalhando em uma vacina de DNA para MERS, causada por outro coronavírus. Isso permitiu à empresa desenvolver rapidamente uma vacina potencial para SARS-CoV-2. Os funcionários da empresa anunciaram no final de abril que havia inscrito 40 voluntários saudáveis em seu ensaio clínico de fase I. Está se preparando para iniciar um ensaio clínico de fase II / III neste verão”.

Universidade de Oxford: “Na Inglaterra, um ensaio clínico com mais de 500 participantes começou no final de abril. As autoridades de Oxford disseram que a vacina em potencial tem 80% de chance de sucesso e pode estar disponível nos próximos dias. A vacina usa um vírus modificado para acionar o sistema imunológico. A universidade fez parceria com a empresa farmacêutica AstraZeneca. A empresa informou em meados de maio que a vacina foi eficaz contra a COVID-19 depois de administrada a seis macacos rhesus macque.”

Universidade de Queensland: “Na Austrália. Os pesquisadores estão desenvolvendo uma vacina cultivando proteínas virais em culturas de células. Eles começaram os estágios de testes pré-clínicos no início de abril.

Companhias farmacêuticas: Johnson & Johnson e Sanofi estão trabalhando em uma vacina própria. A Pfizer também se uniu a uma empresa alemã para desenvolver uma vacina. Seu ensaio clínico inicial com 200 participantes recebeu luz verde no final de abril. As duas empresas começaram os testes em humanos nos Estados Unidos no início de maio. 

TESTES NO BRASIL: CENTROS DE PESQUISA DE VACINAS CONTRA COVID-19

  • O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP).
  • Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP)
  • Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
  • Universidade Municipal de São Caetano do Sul (SP)
  • Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais (MG)
  • Universidade de Brasília (UnB)
  • Hospital das Clínicas na Unicamp, em Campinas (SP).
  • Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná
  • Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP).
  • Hospital São Lucas da PUC do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
  • Hospital Israelita Albert Einstein (SP)
  • Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (RJ)

 Vacina Oxford – AstraZeneca – somente profissionais de saúde neste momento

  • Universidade Federal de São Paulo (CRIE-UNIFESP)
  • Centro de Pesquisas Clínicas de Natal (CPCLIN)
  • Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
  • Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
  • Hospital São Rafael – Salvador (BA)
  • I­nstituto D’OR de Pesquisa e Ensino (IDOR) – Rio de Janeiro (RJ)